É
complicado isso, ela disse, de terminar uma relação e tentar entender, e tentar
explicar e ter que haver uma razão ou um motivo ou até mesmo uma desculpa – mas
que alguma coisa seja plausível ou razoável, que uma das partes possa se
reconfortar com o argumento da outra, ou fazer uma contraproposta, ou mandar o
outro à merda convicto da sua raiva, sua frustração, seu alívio. É complicado,
sabe, ela falou, tentar traçar um caminho pra detectar onde as coisas
degringolaram, onde a impaciência ou a desconfiança, onde ficou estacionada
aquela paixão que antes sem freios, pudores ou motivos.
E é
descabido, ela acrescentou, porque no começo você não fica examinando as rotas,
não se ocupa em tentar prever ou elencar itens que justifiquem e você só dá a
notícia aos amigos e ninguém pergunta “mas por que?” porque os amores
simplesmente começam e todo mundo aceita isso.
Você
entende, ela perguntou, e eu achava que entendia e na minha cabeça era como
quando você tenta cancelar sua assinatura da NET e de repente o mundo,
personificado pela atendente do telemarketing, te cobra explicações e você tem
de responder questões que se empilham umas sobre as outras e é um pouco por
causa disso que você acaba desistindo, fica mesmo com aquela sobra de canais e
aquele excesso de pagamentos, ao passo que na assinatura do pacote da tevê a
cabo ninguém queria saber suas razões.
Ela riu.
Eu tomei um gole do meu drink meio envergonhada, mas no fundo quase tudo opera assim:
as coisas começam porque têm que começar, mas acabar com elas é um esforço tremendo.