quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Saída


É complicado isso, ela disse, de terminar uma relação e tentar entender, e tentar explicar e ter que haver uma razão ou um motivo ou até mesmo uma desculpa – mas que alguma coisa seja plausível ou razoável, que uma das partes possa se reconfortar com o argumento da outra, ou fazer uma contraproposta, ou mandar o outro à merda convicto da sua raiva, sua frustração, seu alívio. É complicado, sabe, ela falou, tentar traçar um caminho pra detectar onde as coisas degringolaram, onde a impaciência ou a desconfiança, onde ficou estacionada aquela paixão que antes sem freios, pudores ou motivos. 

E é descabido, ela acrescentou, porque no começo você não fica examinando as rotas, não se ocupa em tentar prever ou elencar itens que justifiquem e você só dá a notícia aos amigos e ninguém pergunta “mas por que?” porque os amores simplesmente começam e todo mundo aceita isso. 

Você entende, ela perguntou, e eu achava que entendia e na minha cabeça era como quando você tenta cancelar sua assinatura da NET e de repente o mundo, personificado pela atendente do telemarketing, te cobra explicações e você tem de responder questões que se empilham umas sobre as outras e é um pouco por causa disso que você acaba desistindo, fica mesmo com aquela sobra de canais e aquele excesso de pagamentos, ao passo que na assinatura do pacote da tevê a cabo ninguém queria saber suas razões. 

Ela riu. Eu tomei um gole do meu drink meio envergonhada, mas no fundo quase tudo opera assim: as coisas começam porque têm que começar, mas acabar com elas é um esforço tremendo.