domingo, 12 de junho de 2016

Olha a cobra! É mentira!


Um  ano antes o clima estava ameno, a festa junina estava simpática e em poucos minutos eu estava acoplada a um sujeito que pouco depois foi embora, ainda que pareça que eu tenha ficado abraçada nele pra sempre.

Um ano depois a temperatura caiu radicalmente e o inverno rompeu as barreiras da conversa de elevador, dando uma esfriada nos papos sobre política, chance aos casacos de lã e justificando os cachecóis  no Rio de Janeiro. Um rapaz que eu achava charmoso desperdiçou, pela quinta ou sexta vez, a chance de socializar e/ou dançar forró comigo, justamente quando achei que engataríamos uma conversa em que eu mostraria toda minha inteligência e humor. Tenho recebido tantos convites de trabalho – nenhum para um fondue – que ganhei uma autoconfiança terrível, achando que pessoas se jogariam aos meus pés para ouvirem minhas ideias etc.

Tirei Olivia – a filhinha de um ano e meio de uma grande amiga – pra dançar, tomei vinho em copo de plástico e devorei pipoca, que era a única fila razoável.

No fim das contas, B. comentou que talvez fosse uma boa ideia o retorno da “Festa do sinal”. Nos anos 1990 as pessoas queriam facilitar as vidas umas das outras, e nessa festa a cor da sua roupa indicava a sua disponibilidade. Dado o fato de que foram reconhecidos 31 gêneros, recentemente, em Nova York, e de que para além disso há as orientações sexuais igualmente complexas de cada um, em 2016 a “Festa do sinal” deveria vir com patrocínio do Tinder para que as informações mais relevantes ficassem visíveis de alguma forma. No fim das contas, também, tenho de concordar com um(a) desconhecido(a) que tuitou: “Às vezes você só quer dar uns beijos, mas a burocracia é tanta que parece que tá na fila de espera pra receber um transplante de órgão.”

Pouco antes de voltar pra casa calculei uns 10 anos vestindo verde, exceto por um breve intervalo que durou mais ou menos o tempo da quadrilha daquele outro arraiá, e encontrei um sujeito que me apresentou ao filho pré-adolescente dizendo: “Essa é a Julia, escritora e gata.” Vou tentar esse “about me” pros aplicativos de encontros.