Na minha vida, algumas
coisas vêm em lote e quando percebo tá todo mundo tirando o apêndice, lendo
livros da Virginia Woolf, falando de Agamben e cortando leite e glúten da
dieta. Uns são mais explicáveis que os outros, eu sei. Ainda assim, fico
espantada com certas coisas. Por exemplo.
Sábado me atrasei horrores
pro almoço com Marcelo, porque saí de casa de manhã cedo, porque andei o Leblon
ida e volta e porque estava mais quente do que eu imaginava, mas principalmente
porque o desodorante que eu usava fora descontinuado há uns meses, e aquele era
o meu primeiro sábado com 30 anos e com um desodorante em teste. Por causa de
todos os porquês expostos acima, eu estava paranoica e convencida de que
exalava um cecê que só seria resolvido com banho. Ou com a minha mãe, pra quem
telefonei da farmácia, em frente à seção de desodorantes.
A minha mãe é a pessoa
mais cheirosa do mundo. Mesmo quando, eventualmente, ela sua, é batata:
cheirosa. Por telefone, ela sugeriu que eu testasse o desodorante dela. A minha
mãe é também a pessoa mais exagerada do mundo, e deixou no meu banheiro alguns
exemplares tamanho jumbo do roll-on que ela usa há anos, porque ela tem mania
de armazenar coisas, pro caso de. Se um dia o Ban Powder Fresh roll-on for
descontinuado, provalvemente a gente abre uma vendinha aqui em casa.
Quando saí do banho,
Marcelo tinha mandado uma mensagem: “As pessoas já olham pra mim com pena no
restaurante.” Garanti que estava a caminho e que a justificativa era boa. Uma
vez sentada de frente pro Marcelo, contei pra ele o problema. E percebi o
quanto eu estava vulnerável com tudo isso. A mulher de 30 anos não tem mais
idade pra essas coisas. A falta do meu desodorante no mercado me causou um
transtorno. Mesmo uma solidão, eu diria.
Até que ontem, depois de 5
dias usando o Ban Powder Fresh que minha mãe me deu, recebi um email de C., que
fazia uma enquete: “Meninas, que desodorante vocês usam?” Ela dizia já ter
trocado de marca 3 vezes naquela semana, e não confiava em mais nada além de
talco e minâncora, mas acrescentava: “Nem
sempre eu quero ficar com o sovaco branco. Quando vou sair à noite com o
gatinho: não rola talco, pois não há tesão possível com a axila esbranquiçada.”
Em pouco tempo minha
caixa de e-mails foi invadida por mulheres alteradas que tinham opiniões, dicas
e ideias precisas sobre desodorantes. Jeanne, sempre ela, criou até um sistema de categorização,
que julguei muito eficiente:
Verão intenso +
compras na Sr. dos Passos : Ban Powder Fresh
Verão moderado/
Primavera + passeio no Aterro: Nivea Roll On Clear Skin 48hs
Outono/Inverno + café
com Piauí: L'Occitane Desodorante Folhas de Oliva
Se nada funcionar,
apesar de ser contra, tem muita gente colocando botox debaixo do braço.
M.P.: Depois de muitos testes, fiquei com o
Dove-Pepino spray-geladinho. Suporto o cheiro mas fico intoxicada a cada
aplicação. Uso com a consciência de um fumante.
Vou adotar o
Outono/Inverno da Jeanne para dias menos críticos. Quem sabe não ganho mais uns
dias de vida.
M. F.: Quanto a mim, não suporto roll-on.
Tenho o habito de oscilar marcas, um mês Dove, outro Nivea, etc. Meu sovaco é
barato. Mas continuo intrigada com Minâncora no sovaco.
C., que também
detesta roll-on: sinto como se estivesse levando uma lambida no sovaco.
Sugeri leite de
magnésia Philips e me desconectei do computador, porque o dia de trabalho
acabara, porque fui nadar, porque fui à livraria e porque não tenho smartphone.
Quando cheguei em casa, não sei muito bem como, o fórum de discussão tinha sido
levemente desvirtuado e Jeanne enviava uma lista extensa com uma relação dos mais
diversos produtos de beleza, ao mesmo tempo que dizia que Leite de Rosas era
uma tradição em Miguel Pereira, onde ela passou a infância, e que era sentir
esse cheiro pra lembrar de férias de julho e primeira menstruação. Logo depois
ela dizia que usa um rímel à prova de fortes emoções, porque afinal equivocadas
sempre seremos, borradas, jamais.
No meio do caminho,
minha mãe me perguntou se eu estava gostando do novo desodorante, eu disse que
sim, mas que de qualquer forma testaria outras marcas, porque vai que. Eu
achava que torcicolo era a coisa mais ingrata da vida, tanto que, secretamente,
comecei a desejar que cada desafeto meu sofresse um torcicolo no mínimo 3 vezes
por mês. Não sei se desejar cecê é uma boa ideia, porque você pode sem querer
encontrar a pessoa e ainda sobra pra você. Uma amiga que mora em Paris uma vez
começou a desconfiar de que cecê era algo que se pegasse. Ela se cheirava loucamente
no verão, pra ter certeza. A paranoia era tanta que, eventualmente, pedia pro
namorado cheirá-la também. Eu também achei absurdo, mas deu tudo certo: ela não
tinha cecê e eles se casaram.
Talvez o torcicolo
seja mais seguro mesmo de se desejar nos momentos de fúria, afinal, em termos
de sovaco, ao que tudo indica, não estamos tão sozinhos assim.
amei
ResponderExcluirnão uso desodorante
uso água de colônia
Durante a viagem, adquiri um Vichy. Logo na primeira passada, pensei que minha axila entraria em combustão. Ainda assim insisti, uma vez que paguei em euro e o perfume era bom. Mas infelizmente o produto não se mostrou 100% confiável. Ou seja, onde comprar Ban? (Procurei na farmácia da esquina, mas não tinha.)
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