Aceitei o convite praquele fim de semana muito mais por
causa da minha analista que pelos olhos verdes que me olhavam a mais ou menos
1.90m de altura. Eu não poderia mais chegar no consultório dela dizendo que não
fui, não fiz ou não qualquer outra
coisa. Era dezembro, a gente tem que ser solidário. Daí que fui, com um álibi
pra voltar mais cedo, se tudo desse errado, e um álibi pra voltar mais tarde,
se tudo desse certo. A matemática da vida é mais complexa, porém, capaz de te
oferecer um desastre afetivo tremendo enquanto providencia momentos que
qualquer roteirista apreciaria, uma cena pronta de um sitcom que provavelmente
nunca vou escrever. O cenário era um rio que corta um vale, e a fala do sujeito foi muito confiante ao tirar toda a roupa e ficar nu em (pouco) pelo: “Nunca vem
ninguém aqui.” Não hesitei em dispensar meu incrível maiô e me atirar na água, mais
precisamente nos braços do homem. Uma coisa leva à outra, é claro, e
rapidamente migramos para a prainha ao nosso alcance, com uma toalha que se
provou ineficaz na contenção de areia. Não que alguém estivesse pensando em
areia naquele momento. Eu tinha voltado havia poucos dias de uma viagem a Jericoacoara,
tinha passado uma tarde inteira aspirando meu apartamento e todos os biquínis e
roupas e até o meu próprio cabelo. Em vão, evidentemente. Portanto estávamos
ali, na natureza arenosa, estatelados ao sol e ainda um pouco ofegantes, quando
ouvimos uma buzina que nos tirou da inércia. O homem não pensou duas vezes e se
atirou ao rio outra vez.
Não era só um carro. Eram cinco. Talvez seis. Já se
viam duas mesas de plástico montadas um pouco mais pro lado, na parte da
prainha onde as árvores faziam sombra. Coca-cola litrão, carvão, carnes e um
pequeno aglomerado de crianças à distância. Tive a impressão de que os adultos
as mantiveram ali protegidas da visão dos selvagens nus. Havia um ou dois
cachorros e um dos caras mais velhos comentou, quando passei em frente a eles
enrolada na toalha a fim de recuperar meu maiô e o short do homem, que podíamos
ficar à vontade – mas obviamente não tão à vontade. Joguei o short para os
olhos verdes que pairavam fora da água como um jacaré prestes a dar o bote, e
àquela altura ele repetia pra si mesmo “que vergonha”, enquanto eu internamente
me dizia “que maravilha!”. Ele se vestiu sem sair da água, eu me desenrolei da
toalha e fiz o mesmo. Desfilamos diante de toda aquela gente pra irmos embora,
à procura de outro pedaço de rio mais tranquilo. Acenei um tchauzinho pros nossos vizinhos, os olhos verdes não acharam nenhuma graça. Era dezembro, sabe como é, a gente tem que
ser solidário. Tive a certeza de que aquela foi uma boa noite para todos
aqueles adultos, mas nem tanto pra nós dois. Acabamos mesmo voltando mais cedo do fim de semana.
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