domingo, 26 de agosto de 2012

Trago a pessoa amada em 3 dias


F., 2002:

Meu relacionamento com F. durou o tempo que duraram os intervalos que ele teve entre um namoro e outro. Eu já devia ter desconfiado dos meus dons da primeira vez que, percebendo o distanciamento dele, o ouvi dizer que não estava pronto pra engatar um romance sério, porque terminara um namoro complicado, e vivia um momento em que estava concentrado nos estudos, porque queria estudar medicina, porque o vestibular não estava fácil pra ninguém, porque bla bla bla enquanto eu me esforçava pra não tremer a voz. Duas semanas depois, soube que ele estava namorando. Anos depois, quando ele já estava se formando em economia e eu tinha largado o meu segundo emprego em moda, nos reencontramos numa festinha. Passamos aquela e outras 4 noites juntos, nos amando loucamente. Então um dia o telefone dele tocou sem resposta, e na semana seguinte eu soube que ele tinha encontrado seu grande amor, e em três ou quatro meses eles dividiam um apartamento no Humaitá que, ouvi dizer, era um pouco cafona.

R., 2006:

Ele veio brindar 2006 comigo, embora naquele réveillon eu estivesse a base de guaraná. Não fomos mais vistos na festa, não houve fotografias que registrassem nossos sorrisos porque nos afundamos um no outro naquela virada de ano. Ele reparou em tudo quanto se podia reparar em mim: da flor no cabelo ao anel no dedo do pé. Eu era hippie e não sabia. Por três semanas arrancamos suspiros por onde passamos. Ele segurava meu rosto como quem segura um troféu, e não havia dúvidas de que estávamos terrivelmente apaixonados um pelo outro. Era visível, as pessoas exclamavam. Um dia ele foi comprar cigarros e nunca mais voltou: eu fiquei na praia esperando ele chegar, telefonei, mergulhei, fiquei bronzeada, gorda, dormi demais. Meses se passaram até que um amigo esbarrasse com ele na rua, com uma menina a tiracolo. Tempos depois, soube que eles foram juntos pra França: ele pra cursar um mestrado em filosofia, ela com aliança no dedo esquerdo.

P., 2009:

Ele nunca disse que prestava, e eu nunca disse que queria alguma coisa séria, e todo mundo sabia que a trilha sonora do nosso encontro era uma que vivia no repeat do meu primeiro carro, e que dizia: “Don’t you know that you’re nothing more than a one stand?” e eu já tinha idade suficiente pra entender que essa coisa casual e passageira quase sempre me trazia problemas. Duramos duas noites, intercaladas por meses de distância e telefonemas intermináveis que esquentavam minha orelha, e que portanto potencializavam minhas chances de um câncer, isso porque ele estava coordenando uma obra no interior de sabe-se lá, e me contava dos dias, das pedaladas, e nunca falava em saudade, mas era o que parecia. Um dia, andando por Ipanema e ainda achando que estávamos virtual e telefonicamente juntos, dei de cara com ele numa pizzaria, sentado ao lado de uma mulher linda e loira. Nos cumprimentamos rapidamente e eu fui chorar no banheiro, e só saí dali quando o restaurante fechou e a faxineira me encontrou encolhida no canto. A loira e ele estão casados, e adotaram gatos. Três. Eu jamais poderia viver essa vida de espirros, me consolei.



Depois de tantos outros encontros que resultaram em casamentos, amores e filhos para eles, e caixas de kleenex e sessões de análise para mim, finalmente concluí, a reboque de Flaubert: Mãe Valéria de Oxossi, c’est moi.





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